Ontem, em
mais um dos meus delírios noturnos,
entre
aturdido e parvo, surpreendi-me
com os olhos
presos na parede.
Sobre
argamassa e tinta, silenciosamente
um homem me
olhava, cansado e triste,
vestido com
todas as aflições do mundo,
com todos os
seus mistérios,
cada motivo
de esperança ou curiosidade,
tudo o que
nos faz persistir,
insistir em
acreditar no dia seguinte.
Estava
ligeiramente curvado,
com
toneladas de desilusões sobre os ombros,
as mãos
crispadas, como se tentasse
agarrar-se a
alguma coisa ou alguém.
Analisei-lhe
os cabelos grisalhos,
principiando
a se tornarem escassos;
as rugas,
como num mapa hidrográfico;
a pele,
pergaminho ligeiramente desidratado,
e tive a
sensação de que ele queria
me dizer
alguma coisa,
ou pelo
menos balbuciar alguma coisa,
como num
estertor final.
Fiquei
imaginando o que poderia ser,
certo de que
seria um pedido de socorro.
Imerso no
silêncio,
sabedor do
amanhecer ainda distante,
tornei a
adormecer.
Pela manhã lembrei-me do ocorrido e,
penalizado e
curioso, tornei a olhar para a parede,
que não era
uma parede, mas um espelho.
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