terça-feira, 7 de maio de 2013

NA CONTRAMÃO DE TODOS ("Paguei e continuarei pagando o preço exigido pelo meu direito de dizer a verdade. Ou pelo menos o que pensei que fosse a verdade" - George Bernar Shaw)


Sou um ingênuo, parece...
Com todos esses sons de morte,
arrisco-me a pronunciar preces.

Ingenuidade tonta a minha...
Com tantas bombas a ribombar,
ainda acredito na flor que definha.

Arrisquei-me e apostei no homem,
réptil sem passado e sem destino,
gesto presente num olhar bizantino.

Perdi-me em alquimias cotidianas,
em seitas teológicas e profanas,
aerostatos e bombardeios frios.

Construí imensos sonhos colossais,
a alimentarem-se no meu substrato,
em bilhões de células mentais.

Fugi do pão e do circo (filosofia?)
e caí no feijão e futebol,
conformei-me com os conformados,
fiz de templo o que era paiol.

Talvez amanhã eu já não exista,
seja uma imagem abstrata e desfeita.
Pode ser até que, antes, eu desista
e me torne uma máquina perfeita.

Mas hoje, não... Ainda hoje, não.
Apesar dessa arma na mão,
continuarei cometendo versos.

Por que pararia? Parar por quê,
se cometer versos é também
uma maneira de morrer?

Francisco Costa
Rio, 23/02/2013.

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