terça-feira, 7 de maio de 2013

MURAL


Vou construir o maior out door do mundo,
um mural do tamanho do mundo,
e com jet e paciência, em letras garrafais,
enormes, escreverei uma única palavra,
a mais gasta de tão pronunciada, escrita,
anunciada: AMOR.

Escreverei pura e simplesmente amor,
não mais. Será um mural enorme,
de maneira que ninguém tenha os olhos imunes e,
compulsório, se veja obrigado à leitura.

E amor lerá a moça de coração baldio,
esperando ocupação, o moço atento
a corações desocupados, o menino
em crise de abstenção, esperando doses de crack
ou de família, a menina grávida, subtraída de si,
reduzida a uma espera para esperar.

Amor, lerá o palestino nas fronteiras de Israel
e o israelita no coração da Palestina.
Amor, cintilará nos letreiros de Walt Street,
acordando aborígenes na Austrália, esquimós,
índios brasileiros. Amor, escorrerá dos Andes
e do Himalaia, rasgando retinas e corações.

Amor, simplesmente amor, essa coisa gasta,
pronunciada em vão, usada para justificar
o injustificável porque nascido morto, sem amor.

Um amor tão grande, que possa nos unir a todos
em um beijo único, eloquente e duradouro,
em abraço de amante que chega, de filho que vai.

Nesse dia já não haverá mais humanidade
mas um homem único com bilhões de corpos
partilhando a saciedade numa ceia de sorrisos.

Francisco Costa.
Rio, 20/12/2012.

Nenhum comentário:

Postar um comentário