terça-feira, 7 de maio de 2013

MORREU UM POMBO


Hoje vi um pombo morrer.
Apressado, o vizinho saiu
e se esqueceu do viveiro
dos pombos sem opção.

Percebendo-os no cativeiro
feito de se sede e fome,
poleiros e tela, pulei o muro
e os abasteci de vida, milho
posto nos comedouros.

Todos acorreram, imediatos,
menos um, fraco, em agonia.

Cambaleante, de asas inúteis
e passos trôpegos, sem nexo
também foi ao comedouro.

Talvez por não ver a comida,
a visão embaciada de fome,
por instinto e imitação,
começou a dar bicadas no ar,
sôfrego, faminto, em desespero
de náufrago em agonia.

Todos comiam, ele tentava.
Até que, sem esgares, silencioso,
encolheu-se de lado, tornando-se só
um monte de penas frias na manhã.

Tomei-o nas mãos, e silenciosamente
imaginei crianças de destinos iguais,
partilhando do mesmo mundo,
um gigantesco prato de comida,
mas comendo ar, silenciosas e sós,
como esse pombo agora morto,
em testemunho de socorro tardio.

Francisco Costa
Rio, 03/02/2013.

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