Hoje vi um
pombo morrer.
Apressado, o
vizinho saiu
e se
esqueceu do viveiro
dos pombos
sem opção.
Percebendo-os
no cativeiro
feito de se
sede e fome,
poleiros e
tela, pulei o muro
e os
abasteci de vida, milho
posto nos
comedouros.
Todos
acorreram, imediatos,
menos um,
fraco, em agonia.
Cambaleante,
de asas inúteis
e passos
trôpegos, sem nexo
também foi
ao comedouro.
Talvez por
não ver a comida,
a visão
embaciada de fome,
por instinto
e imitação,
começou a
dar bicadas no ar,
sôfrego,
faminto, em desespero
de náufrago
em agonia.
Todos
comiam, ele tentava.
Até que, sem
esgares, silencioso,
encolheu-se
de lado, tornando-se só
um monte de
penas frias na manhã.
Tomei-o nas
mãos, e silenciosamente
imaginei
crianças de destinos iguais,
partilhando
do mesmo mundo,
um
gigantesco prato de comida,
mas comendo
ar, silenciosas e sós,
como esse
pombo agora morto,
em
testemunho de socorro tardio.
Francisco
Costa
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