terça-feira, 14 de maio de 2013

MINHA VOZ


Sim, cheguei onde quis
E se mais longe não cheguei
Foi porque mais longe não quis.

Dispo-me de minha voz imperativa
E de longe a observo senhora de si
Anunciando decisões
Apontando caminhos
Incitando multidões
Murmurando carinhos.

Ei-la, troante e dominadora,
Em salas de aulas,
Auditórios,
Palanques,
Trios elétricos
Carros de som.

(mesmo quando baixou o tom,
Em interrogatórios e acareações,
Seguiu firme, dura, personalizada,
Com dignidade e cinismo disfarçando,
Escondendo a insegurança e o medo)

Auto suficiente ou presa a microfones
Ei-la ordenando greves
Interrompendo greves
Direcionando greves
Grave, gritada, engendrando caminhares.

Mas  sempre que se calou, emudeceu
Deixando-me quieto no travesseiro
Foi pra mostrar que Deus fez piada:

Sabedor da minha fragilidade,
Talvez apiedado,
Deu-me essa voz danada.

E quem a ouviou se equivocou,
A seguiu sem saber que sem ela
Sou pequenininho, sou nada.

Francisco Costa.
Rio, 12/12/2012.

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