Homem,
vejo-te agora menina
Sentadinha
aí na poltrona
Descansando
quase um século
De dedicação
integral aos filhos,
Guerreira
que não foi à guerra,
Santa que
pecou, lavradora
Semeando
sonhos em mim.
Se hoje
escrevo, lembro
Tua mão
sobre a minha
Me alfabetizando,
me permitindo
Chegar na
escola só pra complementar
As palavras
e letras que conheci em ti.
Se hoje me
tranco num atelier
E como um
arremedo de Deus
Vou criando
coisas novas,
Mais não
faço que plagiar tua mãozinha
Sempre
ocupada com o novo e diferente.
Através de
ti conheci Deus, os santos,
As lendas de
duendes e outros encantos.
Te ouvindo
preparei-me para a partilha
Das coisas,
dos dias, do mundo.
Mesmo quando
rebelde, propenso
às más
criações e à resistência,
enquanto eu
desafiava a ditadura
tu oravas,
blindando-me em amor,
temerosa, me
escondendo o orgulho,
só soube
depois, “para não incentivar,
esse maluco
que quer mudar o mundo”
(palavras
suas).
Agora
definhas, te encolhes, murchas
Ocupando
cada vez menos espaço
Nesse mundo
por onde caminhaste.
Em
contradição, em mim
Não há
espaço porque todo ele
Ocupado por
ti, minha mãe,
Musa
primeira, primeira professora
Exemplo
concreto de que viver é amar.
Daqui a
pouco estarás onde não sei,
Mas presumo
que no reino das mães,
Um lugar
onde é sempre sol e saudade.
Um lugar só
de fadas,
Desencarnadas
mães.
Nesse dia,
ainda aqui, caminhando solidão,
Provendo o
trânsito das carências,
Estarei
mutilado,
como o meu
melhor pedaço amputado,
sem o mais
sensível dos meus órgãos,
aquele que
chamei mamãe.
Francisco
Costa
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