terça-feira, 14 de maio de 2013

MEU AVESSO


Em recôndito canto guardo segredos,
Todo o dito, escrito e arrependido,
Os gestos inúteis, vãos, despropositados;
As iniciativas que envergonharam,
Todos os arrependimentos e remorsos.

Finjo que nunca acontecidos, inexistentes,
E cuido para que sepultura não violada,
Arquivo com a chave do cadeado perdida,
Coisa que não se faz presente, esquecida.

Mas de que adianta tanta preocupação
Em me fazer imune ao que é triste
Se a consciência do recôndito canto existe?

Como fingir que o que aflige está inerte
Se o meu coração não tem tecla de delete?

Como fingir que não foi comigo
Se a vítima e autor é meu confidente
Cobrando, permanente, por ser amigo.

Fácil se abrigar da chuva,
Difícil fazer parar a chuva.

Latejam ainda em mim
As dores que semeei
E as que encontrei.

Meus versos: fingimento de que as deletei,
Mais uma atitude insensata e desencontrada
A ser colocada no recôndito canto disfarçado,
Como se em algum momento abandonado,
Onde me erigi o que sou e me fiz o que sei,
Esse relicário de salgas, tapas e dissabores.

Viver é deletar sorrisos e colecionar dores!

Francisco Costa
Rio, 30/04/2013

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