Dispa-se da
angústia que o faz, sóbrio em solidão,
ansiar o
inacessível, o distante, o que só se mostra
por
intuição. Começa por tirar a camisa do cansaço,
dessa
impotência em mudar o mundo, o próximo,
qualquer
coisa que debilita e aturde, impacienta.
Agora o
cinto que lhe oprime, garrote que subjuga
em códigos
de leis, normas de conduta, bom senso,
conveniências,
obrigando-o a máscaras e atitudes
que
contradizem o seu eu mantido só, em segredo.
Os sapatos.
Descalça os instrumentos incômodos
que o levam
a palmilhar caminhos obscuros, medos,
insegurança
do que lhe espera na próxima curva,
se um
sorriso gratuito ou uma lágrima a mais, furtiva
em seu
interminável estoque de muitas lágrimas
mais.
Descalça
agora as meias, macias paredes de algodão
a evitar o
atrito da contrariedade, da discordância
de ser
sempre voto vencido nas questões fundamentais,
ferindo-lhe
o ego, as próprias pretensões, as intenções.
Agora a
cueca, jaula onde se mantêm cativo os seus sonhos,
suas
fantasias, seus desejos mais secretos e pessoais,
e que o fazem
único como uma digital posta num corpo.
Por fim, nu,
principia a se vestir de novo, põe uma máscara.
Há organdis,
purpurinas, lamês, lantejoulas, plumas e
paetês.
Tudo ao
alcance, até se pensar fantasiado... Disfarçado...
Quando
descobrirá, tonto, que você nunca foi tanto você.
Francisco
Costa
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