Alfabetizados,
todos escrevem.
Os sensíveis
vão além, aos versos.
Os mais sensíveis
ainda vão mais além:
juntam
versos em forma de poemas.
E há os que
não param por aí,
usam os
poemas como evocação da poesia
e a poesia
como eternização do momento.
E tudo
deveria parar por aí, mas não.
Há os que,
raríssimos e excepcionais,
saltam sobre
versos, poemas e até
sobre a
própria poesia e fazem logo poetas.
Adeus, Dona
Canô. Como nos versos
de
Maiakovsky, na senhora a anatomia
ficou louca,
a reduziu a só coração,
inclusive o
útero, de onde brotaram poetas
que hoje
choram a orfandade.
Francisco
Costa.
Rio,
27/12/2012.
Para que se entenda o poema: Dona Canô faleceu no natal, aos 104 anos.
Era (e é) tão querida dos brasileiros, que chegaram a escrever que Jesus veio
buscar o presente no dia do seu (Dele) aniversário. Raramente falava, mas
quando o fazia era para destilar uma sabedoria secular. Viu o filho preso,
perseguido pela ditadura, no exílio... E de seus lábios jamais saiu uma crítica
ácida, uma cobrança ofensiva. Católica fervorosa, na verdade era ecumênica, praticamente
cultuada em vida, em igrejas, templos e terreiros, pela bondade e sabedoria. Os
dois poetas a que me refiro, nascidos de seu útero, são Caetano Veloso e Maria
Bethânia, seus filhos enlutados, como todo o Brasil.
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