terça-feira, 14 de maio de 2013

INVERSÃO


Um quadro é sempre
De quem o pinta, idealiza.
Não importa por onde vá,
Por quem ou com quem vá
No trânsito do mercado,
Na arte de se afastar.

Por mais mãos que conheça,
Olhares que excite e provoque,
Alheio à limitação da moldura
Ou lutando para rompê-la
E se continuar no espaço
Um quadro nunca muda de dono.

Assinado ou anônimo, simples
Ou de estrutura desafiadora
Tensionando o espectador,
Propondo a releitura do mundo,
Um quadro jamais muda de dono.

                E assim é tudo o que resulta
Das mãos e do cérebro do homem,
É sempre parte de quem criou.

Quando alguém diz “minha casa”,
Na verdade é um usurpador,
Um corrupto que comprou
O silêncio dos pedreiros,
Dos bombeiros e encanadores;

Que deu propinas a eletricistas,
Marceneiros e pintores,
Para que ficassem calados
E para sempre esquecessem
Seus pedaços postos na obra
Materializada no mundo,
Como se dissesse:

“sou um monumento autônomo,
  independente de quem me tem.

Ele passará e eu ficarei aqui,
Atestando não o que o homem pode comprar
Mas o que o homem pode fazer.

E o meu estilo preservado no tempo
Atestará a cultura de uma época,
Dizendo: “é assim que os homens faziam”,
Nunca “é assim que ao homens compravam”.

Francisco Costa

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