Insonia
Vai já adiantada a noite e tudo dorme, menos eu.
Dormem as
mulheres do meu passado, entre filhos
e, talvez,
lembranças do meu corpo nu, amanhecido
de um
sorriso, insinuações, alguma troca de olhar.
Dormem os
personagens secundários, figurantes
no palco
vazio onde encenei as minhas vitórias,
coisas tão
pequenas e desimportantes vestidas
com a
pretensão de maiores que o universo.
Em sono
jazem os mortos da minha infância,
os que se
fizeram ausentes na adolescência,
os que
migraram para o reino do nunca mais.
Tudo dorme.
A palmeira hirta e imóvel na praia,
o vira latas
que sonha lixo e ossos, a vizinha,
cada
transeunte ausente das ruas abandonadas.
Nada na
vigília, nada ativo, nada consciente,
salvo essa
minha solidão, maior porque sozinha.
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