segunda-feira, 6 de maio de 2013

Insonia

Insonia
Vai  já adiantada a noite e tudo dorme, menos eu.
Dormem as mulheres do meu passado, entre filhos
e, talvez, lembranças do meu corpo nu, amanhecido
de um sorriso, insinuações, alguma troca de olhar.

Dormem os personagens secundários, figurantes
no palco vazio onde encenei as minhas vitórias,
coisas tão pequenas e desimportantes vestidas
com a pretensão de maiores que o universo.

Em sono jazem os mortos da minha infância,
os que se fizeram ausentes na adolescência,
os que migraram para o reino do nunca mais.

Tudo dorme. A palmeira hirta e imóvel na praia,
o vira latas que sonha lixo e ossos, a vizinha,
cada transeunte ausente das ruas abandonadas.

Nada na vigília, nada ativo, nada consciente,
salvo essa minha solidão, maior porque sozinha.

Francisco Costa

Nenhum comentário:

Postar um comentário