terça-feira, 7 de maio de 2013

HUMILDE


Ainda a pouco estava deitado,
um pouco em preces doídas,
um pouco em caça a poemas,
quando fui alertado de súbito:

- Ei, psiu! Quero falar com você.
Viu a tragédia na boate?
Acaso pensas que o fogo no mato
para as formigas é diferente?

Não te passa pela cabeça distraída
que a água morro abaixo, levando,
só vai para as manchetes da mídia
quando forte e violenta o bastante
para te arrastar junto e o que tens?

Mas que, fraca e inocente para ti,
basta para o caos e a mortandade
dos que, menores no tamanho,
também vivem e querem viver?

Sim, um incêndio de grandes proporções,
uma tragédia, sob o ponto de vista
dos que lhes são semelhantes,
mas aos olhos da natureza, só incêndio,
como o da mata calcinada, com formigas
carbonizadas, asfixiadas, reduzidas a nada.

Vai. Acredita-te incólume e livre do acaso,
destila tua arrogância, tua vaidade,
tua pretensa importância de formiga
que se crê mais por não se saber
pouco mais que uma formiga.

Francisco Costa
Rio, 27/01/2013

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