Ainda a
pouco estava deitado,
um pouco em
preces doídas,
um pouco em
caça a poemas,
quando fui
alertado de súbito:
- Ei, psiu!
Quero falar com você.
Viu a
tragédia na boate?
Acaso pensas
que o fogo no mato
para as
formigas é diferente?
Não te passa
pela cabeça distraída
que a água
morro abaixo, levando,
só vai para
as manchetes da mídia
quando forte
e violenta o bastante
para te
arrastar junto e o que tens?
Mas que,
fraca e inocente para ti,
basta para o
caos e a mortandade
dos que,
menores no tamanho,
também vivem
e querem viver?
Sim, um
incêndio de grandes proporções,
uma
tragédia, sob o ponto de vista
dos que lhes
são semelhantes,
mas aos
olhos da natureza, só incêndio,
como o da mata
calcinada, com formigas
carbonizadas,
asfixiadas, reduzidas a nada.
Vai.
Acredita-te incólume e livre do acaso,
destila tua
arrogância, tua vaidade,
tua pretensa
importância de formiga
que se crê
mais por não se saber
pouco mais
que uma formiga.
Francisco
Costa
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