terça-feira, 7 de maio de 2013

FIM DO MUNDO HOJE?


Amanheci mais cedo, apreensivo.
É hoje, disseram-me os profetas.
Hoje, repetiu a mídia sensacionalista,
exatamente hoje, ecoando em susto.

Curioso do que se esconde em roupas,
sejam corpos femininos ou teorias,
busquei  a essência do vaticínio,
de onde poderia ter brotado
a despropositada convicção de um fim.

Cheguei ao Calendário Maia, a letras
impressas a muitos séculos,
e lá estavam todas as efemérides
capazes de fecundar o nosso espanto.

Tábuas de marés (viviam nos Andes,
longe do mar), eclipses, alinhamentos
planetários, conjunções, coincidências
de movimentos e posições impondo
o mistério e a magia à razão.

Mais misteriosa a construção em pedra
de um observatório astronômico
matematicamente exato, preciso,
sem que tivessem conhecido,
ou pelo menos ouvido falar de Newton,
Tales, Pitágoras... E suas equações,
poemas numéricos de luz a iluminar.

Antes dos telescópios, sextantes, gêpêesses,
determinaram a exatidão e despiram incógnitas.
E nasceu o calendário, a calendário Maia.

Previram que a cada 36 000 anos alinhar-se-iam
o centro da galáxia, um imenso buraco negro,
o Sol e a Terra. A partir daí descreveram os dias
futuros, os dias que viriam a correr, diuturnamente.

E aí a beleza de tudo, e poesia em tudo, na ciência,
onde menos deveríamos encontrá-la à mostra.

E a quase milimétrica descrição do a vir
encerra-se hoje. Não se sabe porque,
exatamente na conjunção de hoje o calendário pára.

Pequeninos para entender os grandes, o que é grande,
não questionamos como e de onde
vieram tão fantásticos conhecimentos, precisos e precoces,
a ponto de esperar Einsten para se confirmarem.

Egoisticamente permanecemos trancados em nós mesmos,
preocupados se tudo acaba hoje ou amanhã haverá shopping.

Por que parou hoje o calendário Maia?
Cansaram-se os redatores? Impuseram-lhes censura?
Partiram em férias coletivas, morreram todos
ou propositalmente nos deixaram um legado:

questionai, questionai! Abandonai a vossa pequenês
de insetos adejando as lâmpadas do que se mostra.
Abandonai os vossos próprios umbigos, crescei,
e aí sim, no dia 21/12/2012, em plena conjunção galáctica
um mundo velho terá acabado.

Francisco Costa.
Rio, 21/12/2012.

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