Amanheci
mais cedo, apreensivo.
É hoje,
disseram-me os profetas.
Hoje,
repetiu a mídia sensacionalista,
exatamente
hoje, ecoando em susto.
Curioso do
que se esconde em roupas,
sejam corpos
femininos ou teorias,
busquei a essência do vaticínio,
de onde
poderia ter brotado
a
despropositada convicção de um fim.
Cheguei ao
Calendário Maia, a letras
impressas a
muitos séculos,
e lá estavam
todas as efemérides
capazes de
fecundar o nosso espanto.
Tábuas de
marés (viviam nos Andes,
longe do
mar), eclipses, alinhamentos
planetários,
conjunções, coincidências
de
movimentos e posições impondo
o mistério e
a magia à razão.
Mais
misteriosa a construção em pedra
de um
observatório astronômico
matematicamente
exato, preciso,
sem que
tivessem conhecido,
ou pelo
menos ouvido falar de Newton,
Tales,
Pitágoras... E suas equações,
poemas
numéricos de luz a iluminar.
Antes dos
telescópios, sextantes, gêpêesses,
determinaram
a exatidão e despiram incógnitas.
E nasceu o
calendário, a calendário Maia.
Previram que
a cada 36 000 anos alinhar-se-iam
o centro da
galáxia, um imenso buraco negro,
o Sol e a
Terra. A partir daí descreveram os dias
futuros, os
dias que viriam a correr, diuturnamente.
E aí a
beleza de tudo, e poesia em tudo, na ciência,
onde menos
deveríamos encontrá-la à mostra.
E a quase
milimétrica descrição do a vir
encerra-se
hoje. Não se sabe porque,
exatamente
na conjunção de hoje o calendário pára.
Pequeninos
para entender os grandes, o que é grande,
não
questionamos como e de onde
vieram tão
fantásticos conhecimentos, precisos e precoces,
a ponto de
esperar Einsten para se confirmarem.
Egoisticamente
permanecemos trancados em nós mesmos,
preocupados
se tudo acaba hoje ou amanhã haverá shopping.
Por que
parou hoje o calendário Maia?
Cansaram-se
os redatores? Impuseram-lhes censura?
Partiram em
férias coletivas, morreram todos
ou
propositalmente nos deixaram um legado:
questionai,
questionai! Abandonai a vossa pequenês
de insetos
adejando as lâmpadas do que se mostra.
Abandonai os
vossos próprios umbigos, crescei,
e aí sim, no
dia 21/12/2012, em plena conjunção galáctica
um mundo
velho terá acabado.
Francisco
Costa.
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