terça-feira, 7 de maio de 2013

FILOSOCHORANDO


A primeira coisa a aprender
é separar o homem do homem,
a conhecer o teu lado cósmico, universal
e o lado terra, perecível e nada original.

E amar, porque o amor é tão importante
que muitas paixões deveriam acontecer
a todo instante, cotidianas e diferentes.

E se livrar dos homens chatos,
dos que palmilham o cotidiano
como insetos indesejáveis
com opinião formada sobre tudo,
os que sabem tudo e transitam
incólumes entre verdades absolutas.

Estes são abomináveis e só existem
porque somos propensos ao tormento
e sem chatos ao redor o tormento
e a impaciência passariam rápidos
como coceiras passageiras nos pés.

E amar, porque estamos para o amor
como as pedras estão para as montanhas
e a água está para o mar.

Sem amar um homem é qualquer coisa
gasta, acabada, sem utilidade prática
declinando a sua miudeza estampada
em cada atitude ou intenção,
menos um homem.

Sem amar, tudo está justificado:
a poça de sangue na calçada
colorindo cadáveres e consciências,
a conta bancária do corrupto,
ávida de vidas como um cão mítico,
o gesto de não, a palavra não
a hipótese de que Deus é hipótese.

E o que é o amor, senão a negação
de si em si, o desabrochar em outro?
O que é o amor senão partilha,
quase uma relação ecológica:
tomo em ti o que me faz mais forte
para que mais eu possa te dar?

Isso, o amor, a única possibilidade
de teorizar sobre o nada
nesta minha manhã de tristeza e dor.

Francisco Costa

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