Agora caminho na praia,
Os pés escrevendo o meu peso na
areia,
Olhos no horizonte azul,
Banhado de sol e brisa,
Os cabelos esvoaçando.
Não tenho mulher, amante,
Documentos a assinar,
Decisões a serem tomadas,
Atitudes a serem postergadas...
Nem filhos, alunos, ouvintes,
Leitores, companheiros, parentes,
vizinhos,
Patrões, carteira de identidade,
Título de eleitor, imagem a ser
preservada,
Intenções, projetos,
Compromissos para logo mais...
Nada
que possa me tirar daqui.
Agora sou só eu, e como estou leve!
Não sinto o corpo,
Não sei se estou no cassino da
senilidade,
Optando onde apostar,
Se na hipertensão, no câncer, na
esclerose,
Ou no cassino da juventude,
Sem apostar nada, só espiando.
Gaivotas bordam no espaço
Com
linhas imaginárias
Borboletas amarelas tentam se passar
por sol,
E as flores branquinhas da minha
infância,
Em floração temporã acenam na
restinga
Onde vou concluir a minha travessia,
Fugindo do continente onde me deixei.
Caminho para uma ilha onde o sol é
sempre
E os temporais, pura lenda
Dos que nunca beberam na poesia.
Esse sou eu, nu,
Despido de tudo o que me impuseram
Pensando me ajudar.
Já não carrego o fardo das leis,
Normas, premissas, postulados...
Fardo que nunca foi meu,
Só tomei de empréstimo.
Não olho para trás.
Pode ser que acenem, me chamem,
Ofereçam algemas, alianças, cordas,
Colarinhos... E aí tudo de novo.
A restinga é longa, um areal enorme,
Ornada de espuma dos dois lados
E penso que dificilmente chegarei ao
fim.
A restinga que agora me conduz
Termina no nunca, lá perto do jamais!
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