terça-feira, 7 de maio de 2013

ESSAS MENINAS DE CORPOS CANSADOS (Pra amiga Vanuza do Couto Alves)


Em mãos de rugas e calos, desidratadas,
mais nem por isso menos leves, menos
afeitas a carícias e versos, carinhosidades
que se espalham por aí, distraídas,
canetas, lápis e teclas trabalham,
escrevendo sentimentos que insistem.

Nem primeira nem terceira idades,
nem idades, porque pairam, leves e doces,
sobre a ausência de cronologias,
relógios, cansaços, calendários.

São as meninas de corpos cansados,
as que a vida maltratou e o tempo cansou,
mas impotentes para tocar-lhes as almas,
intactas, virgens como no instante primeiro.

Com elas podemos namorar sem compromisso
porque cada poema um beijo, e até casar
sem seus próprios consentimentos,
já que presenças diuturnas, em versos,
casadas conosco em pensamento.

São as musas, as que se fizeram eleitas:
Tereza de Calcutá, Irmã Dulce, Dona Canô...
Uma constelação de torrões de açúcar
a insistirem que podemos ser doces.

E as vovós poetas, Cora Coralina
e mais as muitas por aí, destilando mel.

Pouco precisam de fantasias, porque nelas
feitas experiências, fontes de risos,
poços de lágrimas, armários de segredos.

Aos comuns, a imaginação fértil e criativa
nascendo letras, fonemas, poemas.
Nelas a memória pescando momentos,
quando, cheias de rugas, netos, cansaço
vergando-as em cada minuto de cada dia

escondem-se dos espelhos dos comuns
para se verem refletidas nos espelhos da poesia.

Francisco Costa.
Rio, 11/03/2013

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