terça-feira, 7 de maio de 2013

EDITAL


Saibam tantos quantos
estas minhas palavras lerem
ou delas tiverem conhecimento,
que daqui a uma semana nascerá um menino.

E dele emanarão todas as forças capazes
de nos fazer homens e mulheres melhores.

E todo aquele ou aquela que se encontrar em dúvida
terá nele o exemplo perfeito e correto
para pautar com segurança os próprios passos
no caminho da paz, da segurança e da felicidade.

Dele dir-se-á e se escreverá muita coisa,
entre exageros, invenções e omissões,
mas, depois de tudo,  sobrará ainda o maior de nós,
aquele que caminhou na lama, mergulhou na lama
e se ergueu incólume, limpo, sem manchas
e sem máculas, sem uma nódoa sequer,
para mostrar que o mal é exterior ao homem,
que basta não se deixar contaminar.

Parecerá um menino comum entre meninos comuns,
brincando, aprendendo, observando...
Com o olhar doce e calmo dos predestinados.

Ainda adolescente desafiará os sábios
e mostrará sapiência incomum para a sua idade,
para o seu tempo: a sabedoria dos iluminados;
e adulto carregará a mansidão dos cordeiros,
a coragem dos heróis, a resignação dos fortes.

Com palavras duras e gestos contrariados
desafiará os mercadores dos templos,
que persistem entre nós até hoje,
e denunciará os falsos profetas,
que ainda hoje insistem em profetizar falsamente.

E negará os falsos deuses, os deuses do ódio e da vingança;
os do comércio e do luto, das tragédias e tempestades,
os falsos deuses tão anunciados e cultuados,
a nutrirem-se dessa nossa triste realidade cotidiana.

Em aparente contradição se curvará aos carrascos
e ao açoite, ao escárnio e às cusparadas,
mostrando-nos a insensatez da injustiça,
da prepotência, da inveja e da covardia.

Por fim, ainda jovem, como milhares de jovens
que amanhecem sem vida, sem amanhã,
nas beiras de estradas, malas de carros
e terrenos baldios, terá o corpo preso a uma cruz,
entre delinquentes, a nos mostrar o destino comum,
a identidade entre indefeso e carrasco,
presa e predador, vítima e agressor,
todos muito iguais porque filhos do mesmo Criador.

E quando pensarmos que partiu,
está longe ou não mais existe,
descobriremos que insiste e persiste
em cada um de nós, livre e pleno em alguns poucos,
encarcerado e sangrando ainda no peito da maioria,
mas pronto para perdoar e abençoar
e anunciar que todo dia pode ser natal.

Francisco Costa
Rio, 18/12/2012.

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