terça-feira, 7 de maio de 2013

DAMA LOUCA


Que dizer da dama posta em minha cama
senão que purga encantos, destila sonhos
entre o anoitecer e a alvorada, surpresas
e surpreendências inundando as noites?

Como descrever o desempenho de gata
espreguiçando-se, elástica e nua,
entre lençóis, cios e cobertores?

Como fazer palavras o que é movimento,
insaciedade, degredo de silêncios,
exílio do que se quer quieto e alheio?

Como impedir essa plenitude de delírios,
esse não saber se comportar, intimidado,
diante da exuberância em estado máximo,
maculando a sensatez e o comedimento?

Como me por interdito, em negativa, avesso,
se a vida escorre com todos os seus atributos,
entre lençóis e cobertores, sobre a minha cama?

Como dizer não numa conspiração de sins,
recuar em plena batalha de carnes e hormônios
se o que quero é a permanência do instante?

Como fingir-me cego se a luz é intensa,
escorre sobre o seu corpo de curvas
e se aloja, definitiva, em meus olhos?

Como, como, digam-me, me despir do sonho
se sonho e realidade fizeram-se coisa única
entre lençóis e cobertores, sobre a minha cama?

Francisco Costa
Rio, 26/04/2013.

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