Que sendo
abstração, pura sensação,
façam-se
concretas as minhas palavras,
capazes de
sensibilizar olfatos e retinas.
Porque
redigir amor se o amor respira,
se anuncia
em cheiros particulares,
únicos, num
corpo de mulher.
O amor fala,
tem cabelos e pernas,
uiva
orgasmos e lastima perdas,
é concreto
como aquela pedra na praça.
Não redijo
saudade porque impressão
sem tradução
nos sentidos.
Antes,
revivo os momentos e os fatos
como se
primeira vez, inéditos,
fazendo-se
coisas concretas, palpáveis,
insistindo
permanentes.
Porque
escrever desejo, coisa abstrata,
se desejo é
o derramar de hormônios
determinando
arrepios, sudorese,
ritmo
cardíaco acelerado, latejares...
Concretudes
em apelo de posse?
Mesmo a
expectativa do final posto
como destino
que se confirma
é manifesto
desfilar de gestos e coisas:
comprimidos,
rugas, gestos de mãos abertas
em adeuses,
inventário do que não ficará.
A abstração
é uma abstração, não existe
senão como
possibilidade de expressão
para poupar palavras.
Francisco
Costa
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