terça-feira, 7 de maio de 2013

COISAS DA COLÔNIA (Ontem mais uma criança morreu, por bala perdida, em troca de tiros entre a polícia e bandidos)


Hoje, em troca de tiros
em um nicho de miséria,
uma criança morreu.
Ninguém sabe ou saberá.

Ontem, em ato de terror
em um nicho de riqueza
uma criança morreu.
O mundo soube ou saberá.

Hoje um menino negro,
de fome, em uma favela,
não mereceu palavras.

Ontem um menino branco,
bem nutrido, escolarizado
mereceu pranto e lástimas.

Hoje um menino negro
teve interrompido os sonhos.
Ontem um menino branco
teve interrompido os sonhos.

Chora o mundo o menino
morto na sede colonial,
ninguém sabe do menino
morto na colônia.

Choram
coloniais e colonizados
um único menino morto.

Quando a escravidão terminou,
levas de negros vararam cercas,
violaram porteiras, partiram.

Muitos, por insegurança e medo,
permaneceram nas fazendas,
acomodados na condição.

Os que partiram aprenderam
a chorar os seus filhos mortos.

Os que ficaram, continuaram
a chorar só os sinhozinhos
mortos, sem saberem-se
mortos também.

Francisco Costa.
Rio, 17/04/2013.

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