Entre deves
e haveres, receitas e despesas,
Contabilizo
dores e sorrisos estampados,
Gritando
qualquer coisa que não entendo
Nesse
janeiro de poucas novidades, tudo igual.
De parto
festivo, pirotécnico e de shows
Anunciando
as boas novas, que de velhas,
Podres,
repetidas, desesperadoras,
Anunciou-se
em chuvas morro abaixo,
Arrastando
casas, utensílios, miséria pingente
Dos dias de
apreensão e carências,
Inaugurando
cadáveres, feridas, chagas.
Seguiu-se
pronunciamento presidencial,
Monumento à
mentira, ao engodo, à demagogia
Posta em
ufanismo vazio de pátria e respeito,
Inútil e sem
sentido como menstruação em grávida.
Na Europa a
crise se aprofundou, fabrica pasmo,
Subtrai o
futuro, delega poderes a inutilidades
Promovendo a
ascensão ao terceiro mundo.
Choram
irmãos portugueses, espanhóis,
Mais longe
dos impérios das caravelas
E mais
próximos das colônias africanas.
Um quarto de
milhar de universitários,
Em música,
chopp, beijos, esperanças mortas
Partiram,
anjos prematuros ornamentando
A incúria, a
omissão, a corrupção cotidianas
Habitando
peitos mais afeitos ao dinheiro.
Um sujeito
julgado e condenado continuadamente
Em diversas
instâncias, preso e algemado, cassado
Em seus
direitos políticos por improbidade, roubo,
Enriquecimento
ilícito, corrupção ativa e passiva,
Com diversos
processos tramitando por ídens motivos,
Líder maior
da escroqueria e da pilantragem,
Capaz de
intimidar, anular, irrelevar Ali Babá
Ou Fernandinho
Beira Mar, está eleito, tomará posse
Como
presidente do senado federal.
Esses os
deves, os deveres, as perdas e danos.
Passemos aos
haveres, aos créditos, aos ganhos:
Ao Menino
Jesus de Praga por uma graça alcançada,
Aquele cisco
no meu olho, e que incomodava, saiu.
Agradeço a
Jesus pelo livramento, o vizinho chato
Se mudou ou
morreu, sumiu. Salve São Jorge, o
Santo
guerreiro que me cobre de vitórias nas lutas.
Aleluia!
Amém, sim senhor, que se há de fazer?
Mas acabas
hoje, janeiro, e está chegando o carnaval,
Hora da
forra: bateremos! Com as mãos ou paus
Agrediremos
forte os tambores e tamborins, surdos.
Pisotearemos
o asfalto, o barro batido, o chão sujo
Que nos
insulta e avilta. Ficaremos em casa quatro dias,
Nessa greve
concedida, permitida. Gritaremos alto
As nossas
angústias, os nossos medos, a nossa dor.
E sairemos
em passeatas, inundando as cidades,
Até a
quarta-feira de cinzas, quando, cinzas exaustas,
Consumidas
no fogo da compensação, descobriremos
Que virão
quintas-feiras de cinzas, sextas-feiras de cinzas,
Marços de
cinzas, abris de cinzas... Até que, fênix renascida
Das cinzas,
luzindo em dignidade e consciência,
Nos
descubramos homens, donos do futuro e da história,
Sorrateiramente
surrupiado por eles, os donos dos janeiros,
Dos anos
todos, de todos os dias, do carnaval... E de nós.
Francisco
Costa
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