terça-feira, 7 de maio de 2013

BALANÇO DE FIM DE MÊS (A todos os indignados, como eu)


Entre deves e haveres, receitas e despesas,
Contabilizo dores e sorrisos estampados,
Gritando qualquer coisa que não entendo
Nesse janeiro de poucas novidades, tudo igual.

De parto festivo, pirotécnico e de shows
Anunciando as boas novas, que de velhas,
Podres, repetidas, desesperadoras,
Anunciou-se em chuvas morro abaixo,
Arrastando casas, utensílios, miséria pingente
Dos dias de apreensão e carências,
Inaugurando cadáveres, feridas, chagas.

Seguiu-se pronunciamento presidencial,
Monumento à mentira, ao engodo, à demagogia
Posta em ufanismo vazio de pátria e respeito,
Inútil e sem sentido como menstruação em grávida.

Na Europa a crise se aprofundou, fabrica pasmo,
Subtrai o futuro, delega poderes a inutilidades
Promovendo a ascensão ao terceiro mundo.
Choram irmãos portugueses, espanhóis,
Mais longe dos impérios das caravelas
E mais próximos das colônias africanas.

Um quarto de milhar de universitários,
Em música, chopp, beijos, esperanças mortas
Partiram, anjos prematuros ornamentando
A incúria, a omissão, a corrupção cotidianas
Habitando peitos mais afeitos ao dinheiro.

Um sujeito julgado e condenado continuadamente
Em diversas instâncias, preso e algemado, cassado
Em seus direitos políticos por improbidade, roubo,
Enriquecimento ilícito, corrupção ativa e passiva,
Com diversos processos tramitando por ídens motivos,
Líder maior da escroqueria e da pilantragem,
Capaz de intimidar, anular, irrelevar Ali Babá
Ou Fernandinho Beira Mar, está eleito, tomará posse
Como presidente do senado federal.

Esses os deves, os deveres, as perdas e danos.
Passemos aos haveres, aos créditos, aos ganhos:

Ao Menino Jesus de Praga por uma graça alcançada,
Aquele cisco no meu olho, e que incomodava, saiu.
Agradeço a Jesus pelo livramento, o vizinho chato
Se mudou ou morreu, sumiu. Salve São Jorge, o
Santo guerreiro que me cobre de vitórias nas lutas.
Aleluia! Amém, sim senhor, que se há de fazer?

Mas acabas hoje, janeiro, e está chegando o carnaval,
Hora da forra: bateremos! Com as mãos ou paus
Agrediremos forte os tambores e tamborins, surdos.
Pisotearemos o asfalto, o barro batido, o chão sujo
Que nos insulta e avilta. Ficaremos em casa quatro dias,
Nessa greve concedida, permitida. Gritaremos alto
As nossas angústias, os nossos medos, a nossa dor.
E sairemos em passeatas, inundando as cidades,
Até a quarta-feira de cinzas, quando, cinzas exaustas,
Consumidas no fogo da compensação, descobriremos
Que virão quintas-feiras de cinzas, sextas-feiras de cinzas,
Marços de cinzas, abris de cinzas... Até que, fênix renascida
Das cinzas, luzindo em dignidade e consciência,
Nos descubramos homens, donos do futuro e da história,
Sorrateiramente surrupiado por eles, os donos dos janeiros,
Dos anos todos, de todos os dias, do carnaval... E de nós.

Francisco Costa
Rio, 31/01/2013.

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