Como eu,
ajoelhai-vos em preces a todas as Marias que,
Anônimas
como as ostras no interior das conchas
Ou
declaradas como a lua em noites de verão,
Permeiam o
mundo em graça e leveza de fêmeas
Afeitas à
ornamentação do cotidiano transitando em nós.
Ave à Maria
primeira, maior porque mãe do maior de nós,
À que se fez
lágrima e chagas nas chagas do filho na cruz.
Ave às
Marias dos calendários, milimetricamente esculpidas
Em carne e
desejos postos ao alcance de olhares que se bastam
E pensamentos
que se escondem, envergonhados e clandestinos.
Ave às
Marias operárias, dando provimento ao mundo,
Deixando
seus pedaços na obra, edificando-se coisas
Nas coisas
que fabricam, extensões de si no frio do mercado.
Ave às
Marias meninas, edificando-se Marias de verdade
Enquanto
esperam às insaciedades da carne, os seus momentos.
Ave às
Marias prostitutas em oferenda pública de si mesmas,
Meros
objetos de consumo urgente e descartável, chorando
A solidão da
que não se tem, perdida sem descobrir aonde.
Ave às
Marias cafetinas, que em zonas e prostíbulos contabilizam
A carne
posta sobre a cama, ou na política, vampirizando, macabras
Marias
outras despindo-se não das roupas, mas de si próprias
Amanhecidas
num mar de necessidades, quereres e carências.
Ave às
Marias enclausuradas em si, escravas da virgindade
Aguardando
descuidos, ou da virgindade imposta, depois da viuvez
Nascida num
velório ou na decepção de um amor bandido.
Ave às
Marias artistas, pintoras, atrizes, escultoras, poetas
Em
permanente coito com o belo, o transcendente, o universal
Necessário e
obrigatório como cada Maria na reprodução do mundo.
Ave às
Marias, a todas as Marias, a qualquer mulher
Porque
qualquer uma delas, cada uma delas, uma
doce Maria
Que permeia
o mundo em graça e leveza de fêmea
Afeita à
ornamentação do cotidiano transitando em nós.
Francisco
Costa
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