terça-feira, 7 de maio de 2013

AVES MARIAS


Como eu, ajoelhai-vos em preces a todas as Marias que,
Anônimas como as ostras no interior das conchas
Ou declaradas como a lua em noites de verão,
Permeiam o mundo em graça e leveza de fêmeas
Afeitas à ornamentação do cotidiano transitando em nós.

Ave à Maria primeira, maior porque mãe do maior de nós,
À que se fez lágrima e chagas nas chagas do filho na cruz.

Ave às Marias dos calendários, milimetricamente esculpidas
Em carne e desejos postos ao alcance de olhares que se bastam
E pensamentos que se escondem, envergonhados e clandestinos.

Ave às Marias operárias, dando provimento ao mundo,
Deixando seus pedaços na obra, edificando-se coisas
Nas coisas que fabricam, extensões de si no frio do mercado.

Ave às Marias meninas, edificando-se Marias de verdade
Enquanto esperam às insaciedades da carne, os seus momentos.

Ave às Marias prostitutas em oferenda pública de si mesmas,
Meros objetos de consumo urgente e descartável, chorando
A solidão da que não se tem, perdida sem descobrir aonde.

Ave às Marias cafetinas, que em zonas e prostíbulos contabilizam
A carne posta sobre a cama, ou na política, vampirizando, macabras
Marias outras despindo-se não das roupas, mas de si próprias
Amanhecidas num mar de necessidades, quereres e carências.

Ave às Marias enclausuradas em si, escravas da virgindade
Aguardando descuidos, ou da virgindade imposta, depois da viuvez
Nascida num velório ou na decepção de um amor bandido.

Ave às Marias artistas, pintoras, atrizes, escultoras, poetas
Em permanente coito com o belo, o transcendente, o universal
Necessário e obrigatório como cada Maria na reprodução do mundo.

Ave às Marias, a todas as Marias, a qualquer mulher
Porque qualquer uma delas, cada uma delas,  uma doce Maria
Que permeia o mundo em graça e leveza de fêmea
Afeita à ornamentação do cotidiano transitando em nós.

Francisco Costa
Rio, 04/012/2013.

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