terça-feira, 7 de maio de 2013

AULA DE BIOLOGIA


Acaso sabes o que são as flores, meu amor?
Pois direi: são a genitália da planta,
A parte por onde fazem amor,
Ainda que longe os vegetais amantes,
Em sítios diferentes imaginando-se.

Fossem animais, como nós, procurar-se-iam,
Num inusitado enroscar de troncos, galhos
Espraiando-se lânguidos na tarde, raízes em riste,
Folhas arrepiadas. Mas estão fixos, condenados.

E assim como nos servimos dos fofoqueiros,
Dos indiscretos e dos poemas para nossos recados,
Plantas apaixonadas buscam os seus emissários:
Borboletas, concentração de leveza e cores;
Abelhas, lucizumbir de coleta intermitente,
Morcegos, beija flores ao avesso, escondidos
Na noite, com vergonha de nós, e os colibris,
Faíscas, cintilações, anjos contidos porque pequenos.

Para tanto, femininas, como define o substantivo
Que as nomeia: flor! Serviram-se da sedução:
Sabedoras de que estar vivo é comer, nos dois sentidos,
Criaram fábricas de açúcar e proteínas, de néctar,
Prontas ao abastecimento dos emissários.

Com motivo para que viessem, faltava a indicação:
E criaram fábricas de perfume, de aviso de cio:
“- sente o cheiro: aqui tem néctar, vem e me come”.
E que mais querer o amado senão não mais que isso?

Mas nem sempre a amada estaria perto o bastante,
O suficiente para que o cheiro do amor o alertasse.
E serviram-se das cores, vestiram-se de formas,
E de cores, das mais comuns às mais inusitadas,
Como faróis em aeroportos gritando: “- vem, é aqui!”.

E então, amor, como um besouro tonto e faminto
Eu te vi e me aproximei. Cioso na adoração das formas,
Parasitei tuas pétalas e conheci teu néctar, teu perfume.

E então... A aula acabou. Toma essa flor, vem, vamos.

Francisco Costa
Rio, 20/01/2013.

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