Acaso sabes
o que são as flores, meu amor?
Pois direi:
são a genitália da planta,
A parte por
onde fazem amor,
Ainda que
longe os vegetais amantes,
Em sítios
diferentes imaginando-se.
Fossem
animais, como nós, procurar-se-iam,
Num
inusitado enroscar de troncos, galhos
Espraiando-se
lânguidos na tarde, raízes em riste,
Folhas
arrepiadas. Mas estão fixos, condenados.
E assim como
nos servimos dos fofoqueiros,
Dos
indiscretos e dos poemas para nossos recados,
Plantas
apaixonadas buscam os seus emissários:
Borboletas,
concentração de leveza e cores;
Abelhas,
lucizumbir de coleta intermitente,
Morcegos,
beija flores ao avesso, escondidos
Na noite,
com vergonha de nós, e os colibris,
Faíscas,
cintilações, anjos contidos porque pequenos.
Para tanto,
femininas, como define o substantivo
Que as
nomeia: flor! Serviram-se da sedução:
Sabedoras de
que estar vivo é comer, nos dois sentidos,
Criaram
fábricas de açúcar e proteínas, de néctar,
Prontas ao
abastecimento dos emissários.
Com motivo para
que viessem, faltava a indicação:
E criaram
fábricas de perfume, de aviso de cio:
“- sente o
cheiro: aqui tem néctar, vem e me come”.
E que mais
querer o amado senão não mais que isso?
Mas nem
sempre a amada estaria perto o bastante,
O suficiente
para que o cheiro do amor o alertasse.
E
serviram-se das cores, vestiram-se de formas,
E de cores,
das mais comuns às mais inusitadas,
Como faróis
em aeroportos gritando: “- vem, é aqui!”.
E então,
amor, como um besouro tonto e faminto
Eu te vi e
me aproximei. Cioso na adoração das formas,
Parasitei
tuas pétalas e conheci teu néctar, teu perfume.
E então... A
aula acabou. Toma essa flor, vem, vamos.
Francisco
Costa
Nenhum comentário:
Postar um comentário