Cioso do
dever de ajudar,
tornando-se
cúmplice,
sempre as
voltas com tesouras,
pazinhas,
fitilhos plásticos, espátulas...
Orientei a
arquitetura vegetal, as florações
nos limites
do meu jardim,
escolhendo criteriosamente
o repertório
de formas, cores e cheiros.
Mas adoeci
e, interdito ao esforço físico,
divorciei-me
da prazerosa atividade,
para
perceber que não ajudava, atrapalhava.
Abandonado
ao destino da autossuficiência,
logo capins
de todas as espécies e tipos,
ervas
rasteiras, trepadeiras, parasitas
chegaram
invadindo tudo, talvez sabedoras
da
vigilância interrompida.
E cresceram,
ficaram adultos, floriram
e se
multiplicaram, descaracterizando tudo.
Hoje resolvi
avaliar o estrago e me encantei:
as sementes
abundantes de capins nativos
atraíram
pássaros que eu sequer supunha
existir na
região. Flores modestas e simples,
nativas,
tornaram-se pastos de borboletas
desconhecidas
aos meus olhos em êxtase.
Chegaram
predadores de multicores:
Joaninhas, gafanhotos,
besouros, abelhas...
Os
predadores dos predadores: pássaros,
lagartinhos,
pequenas aranhas, grilos...
criando um
novo tipo de jardim: sonoro.
Os
periquitos e maritacas que passavam longe,
voando alto,
sem motivo de aproximação,
estão me
visitando, e o que eu cultivava,
rosas,
bouganvilles, margaridas, dálias...
Não
florescem mais em abundância,
forçadas a
isso por mim atento, intervindo.
Estão de
flores poucas e menores, mas felizes,
em
consecução dos próprios ritmos de existência.
Já não é um
jardim orientado por um homem,
mas um
ecossistema que a si se basta, natural.
A fauna
voltou e se estende na luz do sol,
as plantas
sorriem o sorriso vegetal,
felizes como
animais fugidos do cativeiro.
Libertou-se
a natureza e livre está o jardineiro.
Francisco
Costa.
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