quarta-feira, 8 de maio de 2013

A UM POETA CHATO


Ah! Esse poeta alienado,
O sábio das nulidades
Me contestando
Em cada comentário.

Acho engraçadíssimo
Quando do alto da sua douta sapiência
Afirma que viés de poeta é diferente
Do viés do revolucionário.

Primeiro olho em volta, a meu redor
E não vejo nenhum revolucionário.
Aí  vou ao espelho e continuo sem ver.

Depois vasculho os escaninhos da memória
E imagino Lorca, Neruda, Brecht, Maiacovsky,
Castro Alves... Ouvindo os mesmos conselhos:
“meu filho, canta a musa, esquece o povo!”

Ou talvez o ideal fosse eu me recolher
E me acreditando terminar em minha própria pele,
Implorar o paraíso quando a minha pele se romper.

E me acha vaidoso, o que admito, por humano,
Mas não a ponto de criar um grupo meu, só meu,
Deixar um poema fixado, para três curtições
E um comentário, e afirmar: “eu cedo espaço
A quem tem afinidade com as propostas do grupo.”

Não reconheço censores, não aceito censores
Abomino censores, e durante toda a minha vida
Mais não fiz que transgredir as vontades dos censores.
Os que tentaram me direcionar ficaram pelo caminho.

Ah, sábio das nulidades, teórico do vazio,
Intelectual da nobreza posta no improvável,
Como és nocivo ao futuro, pregando a alienação,
O trancar-se em si, o cuidar da própria salvação.

A solidariedade não se mede em metros,
Ser junto transcende distâncias,
E mesmo com a musa ao lado, na cama,
Junto estão os que sofrem de fome e impaciência,
As vítimas dos individualistas que as roubam,
E dos individualistas que as deixam ser roubadas.

É seu o inalienável direito de ser alienado,
Tanto quanto meu o de ser consciente.
Não tente impor o ego como eixo do mundo
Porque isso mãe das ditaduras, pai do fascismo.

Meu canto é de solidariedade sim, e continuará.
Cantarei as minhas musas, desnudas em corpo,
Despidas na alma, com a túnica do amor, apenas.
Mas sem nunca deixar de cantar os de outra nudez,
Os despidos de tudo, casa, comida, educação, amanhã.

Orgulho-me quando deixo de ser único porque outro
Chorando nos meus versos, pedindo solução.

Só me sinto só em momento de oração:
Senhor, faz da pele do meu saco, elástico,
Para que eu possa suportar os chatos,
Os impertinentes e os inoportunos, amém.

Francisco Costa.
Rio, 19/02/2013.

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