quarta-feira, 8 de maio de 2013

A MULHER E A POETA


Tens qualquer coisa que plange,
lastima, com mansietude de gata
deitada nas sombras dos dias.

Desfias lamentos como se natural
clamar pelo que esperas em vão.

Tudo em ti dói, lateja, incomoda,
como chaga aberta, ulceração
de ansiedades postas nas horas
em que haveria sono e sonhos.

És só, como uma palmeira, hirta,
incólume às marés e ao vento,
alheia à paisagem a redor,
centrada no incompreensível,
no que não se distingue
porque puro instinto, desconfiança
que deixas escorrer em versos.

Nua, no entanto, despida do pudor,
das roupas, de ti mesma esquecida
em algum poema por terminar,
és só mulher, carne e desejos,
desempenho de versos livres,
sem métrica e sem rimas, de ritmo
solto, impróprio à declamação
porque sem palavras, só de ruídos,
gritinhos, gemidos, arfares, ais...
que em poema algum descreverás.

Poeta me alimentando de sonhos
és ótima.
Mulher me realizando os sonhos,
és muito melhor.

E confuso, surpreendido, em rendição
me entrego em teus braços, versos,
e me encontro em teu corpo, poema,
sorvendo sexo como se um livro,
página a página, parágrafo a parágrafo,
lastimando saber que haverá final,
quando abandonarás a mulher aqui,
em minha cama, e te disfarçarás
em poeta, não mais que uma poeta,
entre tantas, igual.

Francisco Costa.
03/04/2013.

Um comentário:

  1. Fico muda das palavras diante de tão imensa entrega...bela! " Poeta me alimentando de sonhos
    és ótima.
    Mulher me realizando os sonhos,
    és muito melhor." Fascinada estou, Francisco! Beijos querido poeta <3

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