Perdido
entre a tarde e meus próprios desencantos,
ambicionando
poemas imensos em seu sentido,
sempre
menores que a aspiração e a inspiração,
alheio ao
que mais não fosse que o dia repetido
em mesmos
sons, mesmos tédios, mesmos pássaros,
eis que
surge envolta em névoas de súbitos sonhos,
ela,
escultural forma feminina em carne esculpida,
lacerando
olhares, apressando passos, aturdindo
o que até
então calmaria de monges em contemplação.
Com todo o
universo para assentar os olhos,
assentou-os
sobre mim, parvo, aturdido,
como
apostador diante de bilhete premiado.
Eu? Por que
eu, justo eu, meu São Eros despertado,
padroeiro
dos poetas caçadores de musas, porquê?
E me
aproximei em revolução anatômica, o coração
passeando
entre a garganta e o estômago, em ritmo
de tango
argentino com vinho do porto, aportado
na minha
estupefação: eu mesmo? Será?
E nos
sentamos, um perfume estupefaciente invadindo,
percorrendo
cada glândula, os cinco membros
petrificados
de espanto e assombro, rijos, loucos,
em apelo
radical: tem que ser agora, logo, e aqui.
E começou a
conversa em mesmo clima de início
das
conversas de primeiro encontro, profundas,
interessantes,
como entre um downiano gago
e um jogador
de futebol explicando o lance do gol.
Mas evoluiu,
meu olhar entre o decote e as pernas,
envesgados,
trêmulos, piscando mais que pirilampo no cio.
E chegamos à
Filosofia, segundo ela a sua paixão.
De posição
política determinada, sem abrir mão,
fui direto:
Marx e Engels? E ela, sem pena nem dó:
prefiro Rick
e Rener, Chitãozinho e Xororó.
Pensei ,
pensei, e concluí... Melhor não ser interrogativo,
limite-se as
afirmações, e avalie as reações.
Confessei-lhe
cometer alguns versinhos e ser amante
das artes
plásticas. Respondeu, dizendo preferir ginástica.
Insisti:
gosto muito de Da Vinci, e ela, prestimosa:
isso é
crime, propaganda enganosa. E o pior ficou pra final.
Continuei no
assunto: adoro Picasso!
Ela se
levantou, furiosa: esse negócio de bissexual...
Não é
comigo. Tchau!
Francisco
Costa
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